Associação Agrícola de São Miguel recusa secundarização da agricultura em relação ao turismo | Agricultor 2000


Nas eleições que decorreram no passado dia 14 de julho, foram reeleitos com 547 e 543 votos a favor os novos corpos sociais da Associação Agrícola de São Miguel e da Cooperativa União Agrícola, respetivamente. Com uma votação que superou todas as expetativas, dado tratar-se de uma lista única, o Presidente das duas instituições revelou que a expressiva votação veio mandatar e dar força ao conselho de administração para reivindicar um melhor rendimento para os agricultores. Com um recado direto às indústrias para que aumentem o preço do leite, Jorge Rita deixou também uma nota para o Governo Regional, recusando que o setor agrícola seja secundarizado em relação ao turismo

Foi com uma "votação recorde" que foram eleitos os novos corpos sociais da Associação Agrícola de São Miguel e da Cooperativa União Agrícola, para mais quatro anos. Os corpos sociais das duas instituições contaram com uma renovação de 30% dos seus membros e contaram com 547 votos a favor, 17 em branco e um voto nulo, no caso da Associação Agrícola de São Miguel, enquanto na Cooperativa União Agrícola registaram-se 543 votos a favor, 21 votos em branco e um voto nulo.

Uma votação "bastante expressiva e acima das nossas melhores expetativas", conforme referiu Jorge Rita, o reeleito Presidente de ambas as instituições, que se mostrou até emocionado com a "votação recorde" que legitima este conselho de administração numa altura difícil para o setor agrícola.

Com uma lista única a votos, Jorge Rita pediu uma grande votação e os associados corresponderam em grande número, levando o reeleito Presidente das duas instituições a tirar várias leituras desta clara votação. Primeiro, "a força que a lavoura dá ao conselho de administração, com esta votação", o que no entender de Jorge Rita "legitima-nos e dá-nos credibilidade, força e moral para o que são os objetivos de toda a lavoura micaelense que é melhorar o seu rendimento". Isto porque, afirma, "a forma de melhorar o seu rendimento é precisamente manifestando no seu voto, a confiança que tem nas pessoas que estão à frente das suas instituições".

Um ato eleitoral desta dimensão "incomoda a classe política e as indústrias e serve de alerta para a própria sociedade civil, que percebe que a lavoura não está morta. A lavoura está viva e bem viva e precisa urgentemente de melhorar o seu rendimento, porque merece e precisa", referiu.

Num momento em que o setor atravessa um momento de dificuldade "é preciso invertermos a situação atual" e este ato eleitoral "demonstrou a união de todos. Precisávamos de ser mandatados desta forma, porque assim é que vamos continuar a ter força para reivindicar junto daqueles que cada vez gostam menos do setor".

Jorge Rita voltou a afirmar que "temos o melhor leite do mundo mas o mais mal pago da Europa e é isso que temos de dizer a todos e aos próprios consumidores", e recebeu bastantes palmas por parte dos associados. "O consumidor quando prova o nosso leite, sabe que tem o melhor produto do mundo e tem de ter consciência que tem de pagar mais. E as nossas indústrias têm que valorizar o produto e não podem esmagar mais do que já estamos a ser esmagados", acrescentou.

Referiu ainda que "Não há desculpas das indústrias, de nenhuma delas. A questão dos mercados é uma falsa questão, eles é que estão incapacitados e com deficiências próprias para vender melhor os seus produtos. Estão a fazer isso à custa de oprimir cada vez mais a matéria-prima, que é o leite, pagando pouco pelo nosso leite", referiu.

Jorge Rita apontou ainda como desafios para os próximos quatro anos o próximo Quadro Comunitário de Apoio, referindo que ainda não foi feito um balanço do atual Quadro 2014/2020 e "já estamos a discutir o 2020. Isso acontece porque quando as verbas não chegam, falamos logo no próximo Quadro Comunitário de Apoio".

Falou-se ainda nas negociações do POSEI, onde "há um trabalho quase invisível de grande dimensão" a ser feito "e que puxa muito por aqueles na região que estão ligados a todo esse trabalho de criação de portarias e reivindicação de ajudas que recebemos do POSEI".

Mas Jorge Rita não pôde deixar de falar no "paradigma diferente que se vive na Região" e onde o turismo tem cada vez mais impacto. "Toda a gente se esquece, propositadamente, principalmente os governantes, que este turismo vem cá por aquilo que temos, a magnífica paisagem e que é feita pelos agricultores, pelos lavradores. O nosso verde e as vacas nas pastagens, isso é que é o mote, para além dos ex-libris da paisagem", referiu.

Novamente o Presidente da Associação Agrícola de São Miguel voltou a referir que "quem potencia na região o turismo é a própria agricultura e propositadamente os políticos ignoram essa situação porque querem secundarizar o setor da agricultura para outros, mas este ainda é aquele que tem o maior e melhor contributo para o PIB (Produto Interno Bruto) regional".

Recusando uma secundarização do setor agrícola em relação ao turismo, Jorge Rita lembrou que "estamos a viver dois anos consecutivos de crise no setor leiteiro, mas nos outros anos quem é que aguentou a economia dos Açores antes do turismo?

O que é que representa o turismo no PIB regional? está muito aquém do que representa ainda o setor da agricultura", reforçou.

Como exemplo, Jorge Rita deu o caso da exportação de queijo que representou um encaixe de 240 milhões de euros. "É essa capacidade de exportação extraordinária que temos nesse momento e conseguimos ter produtos para alimentar, e bem, os turistas cá. Não vamos deixar que o setor agrícola nestes 4 anos seja secundarizado", ressalvou.

Neste sentido, Jorge Rita acrescentou que apesar do setor atravessar agora um momento difícil "é o melhor e maior setor de atividade económica da Região e precisa de ser revitalizado com ajudas do Governo Regional, que tem tendência natural neste momento para retirar as ajudas que implementou nos últimos tempos e isso não vamos permitir".

No final do discurso, Jorge Rita fez questão de agradecer. Primeiro, aos associados que exerceram o seu direito de voto e a toda a equipa que permitiu o ato eleitoral. Depois, agradeceu aos dois elementos que cessaram funções no anterior mandato e que também ajudaram a instituição a crescer, nomeadamente António José Braga Sousa e Agostinho Furtado Oliveira.

Após o discurso do reeleito Presidente da Direcção da Associação Agrícola de São Miguel e da Cooperativa União Agrícola, decorreu a tomada de posse dos novos corpos sociais.