AASM pede apoio do Presidente da República para se ultrapassarem os tempos difíceis no setor | Agricultor 2000


O Presidente do Conselho de Administração da Associação Agrícola de São Miguel lembrou a Marcelo Rebelo de Sousa que os agricultores açorianos estão a ser afetados por uma crise "que não foi criada por eles” mas sim por decisões políticas.

Jorge Rita lembrou que durante muitos anos o setor agrícola foi o suporte da economia na região, e continuará a sê-lo no futuro. "Não há setor que substitua a nossa agricultura", disse Jorge Rita embora reconhecendo que o turismo é muito potenciado pela agricultura e que o contrário também acontece. Apesar de haver essa interação entre os dois setores, Jorge Rita afirmou que "não sei se algum setor consegue substituir em receitas 300 milhões de euros numa região como a nossa", acrescentando que a agricultura representa emprego direto para 11% da população açoriana

O Presidente do Conselho de Administração da Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita, começou por elogiar a moldura humana que se reuniu para homenagear o Presidente da República em jeito de "reconhecimento e agradecimento ao dinamismo que tem, à grande capacidade de perceber o que nós pensamos e fazer com que o povo também se sinta protegido".

Jorge Rita falava da tragédia dos incêndios que assolaram recentemente o continente português e da posição de Marcelo Rebelo de Sousa perante as populações afetadas. "Os Açores e os agricultores dos Açores estão muito reconhecidos pela sua atitude, pela sua proatividade na ajuda das decisões em prol dos mais desfavorecidos", disse.

Mas os agricultores açorianos também vivem dificuldades e Jorge Rita considerou "lamentável como se tem uma boa agricultura, um leite que é o melhor do mundo, um leite mais mal pago da Europa, como se tem agricultores dececionados, como é que se tem juventude que adora agricultura, que gosta de produzir, que está no setor por paixão, e vivermos uma crise que não foi criada pelos agricultores".

Jorge Rita lembrou a Marcelo Rebelo de Sousa que os agricultores açorianos estão a ser prejudicados "por decisões políticas que não temos nada a ver com elas. O embargo russo é uma decisão política e os agricultores não foram tidos nem achados para opinar sobre essa situação. Mas somos confrontados com baixas substanciais do que são os nossos produtos ao longo dos últimos três anos. Lamentamos que essa situação tenha acontecido", disse.

O presidente da Associação Agrícola de São Miguel lembrou que a agricultura na região "durante muitos anos foi o suporte da economia na região, e continuará a sê-lo no futuro", alertando que mesmo que outros setores de atividade estejam a crescer, "não há nenhum setor de atividade nos Açores que substitua a nossa agricultura. O nosso leite e a qualidade dos nossos produtos. Não há setor que substitua a agricultura na coesão económica e territorial, e mesmo o turismo que está a crescer, é muito potenciado pela agricultura, embora o contrário também aconteça".

Referiu que o "turismo adequado" trará mais-valias para a região, mas reconhecendo que "o seu crescimento não pode pôr em causa a nossa qualidade de vida, a nossa sustentabilidade económica, a nossa paisagem e o nosso bem-estar que também tem um custo com o afluxo do turismo, se for mal direcionado". Este também é "um grande desafio para todos nós", já que é a agricultura que tem vindo a dar suporte à economia regional.

"Ouvimos muito falar de milhões, de muitas verbas, mas o que pretendemos e precisamos na nossa agricultura é capacidade, arte e engenho" e também alguma proatividade de quem governa em relação ao próximo Quadro Comunitário de Apoio, o programa 2020, nomeadamente em relação à revisão do POSEI "que é dos melhores instrumentos financeiros que temos para a Região Autónoma dos Açores por sermos região ultraperiférica, e o enfoque tem que ser dado precisamente nas regiões ultraperiféricas e nessa estratégia articulada entre a Região, o País e Bruxelas". E nesse aspeto Jorge Rita pediu a colaboração do Presidente da República "para ajudar a ultrapassar algumas dificuldades, para que não haja uma orfandade em relação a algumas dessas posições, porque se isto se verificar ficamos com mais dificuldade em articular e em sermos mais coesos naquilo que são as pretensões e reais reivindicações que pretendemos para a região".

O presidente da Associação Agrícola de São Miguel lembrou que o setor agrícola é geralmente o mais visado quando se fala em apoios e subsídios, mas ressalvou que "é bom que as pessoas não se esqueçam que os agricultores recebem subsídios para ajuda às perdas de rendimento, para que o consumidor final continue a consumir leite ao preço que consome, produtos lácteos e derivados ao preço que consome, todas as produções de carne e hortícolas".

Lembrando que na década de 50 e 60, cada família gastava com alimentação cerca de 60% do seu orçamento familiar, Jorge Rita referiu que "hoje cada família gasta 12% na alimentação, porque os subsídios nem tão pouco são suficientes para colmatar essas diferenças. Por isso na década 50 e 60 havia muitos ricos na agricultura, nós hoje somos felizes às vezes, mas queríamos ser muito mais felizes".

Por isso Jorge Rita pediu que na região a agricultura "não seja desviada para segundo plano, porque os países e regiões, valem pela sua balança comercial, e se há setor de atividade que tem capacidade para produzir bens transacionáveis, que tem excelente capacidade de exploração, é o setor agrícola e concretamente o setor leiteiro", referiu dando o exemplo do leite e seus derivados exportados pelos Açores ascendem a 300 milhões de euros. "Não sei se algum setor consegue substituir em receitas 300 milhões de euros numa região como a nossa", disse Jorge Rita que acrescentou que em termos de emprego o setor agrícola também emprega 11% da população ativa e de forma generalizada dá emprego a 40% da população de forma direta e indireta.

Depois, Jorge Rita apontou para algumas fotografias que emolduravam o local escolhido para os discursos e disse: "Eu olho e vejo aqui: juventude, belezas naturais, bem-estar animal, vacas vistosas, paisagens magníficas, o verde, emoção, paixão é o que nós queremos para os Açores e contamos consigo", referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa.