Retoma do preço do leite “ténue e residual” não afasta clima de desânimo na lavoura | Agricultor 2000


O Presidente da Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita, reforçou a necessidade de se aumentar o rendimento dos produtores "porque não vamos aguentar muito mais tempo".

A expetativa é que as indústrias aumentem o preço do leite pago à produção, que continua a ser o melhor do mundo e o mais mal pago da Europa, enquanto espera que Governo Regional mantenha o pagamento dos 45 euros por vaca para ajudar a minimizar os anos de crise no setor.

Na inauguração do IV Concurso Micaelense Holstein Frísia de Outono, Jorge Rita falou na excelência e qualidade que a produção tem vindo a aperfeiçoar e que esteve bem patente durante o certame.

Na inauguração do IV Concurso Micaelense Holstein Frísia de Outono, o Presidente da Associação Agrícola de São Miguel voltou a lembrar que "há muito desânimo na lavoura" devido às dificuldades que se sentem atualmente na produção de leite.

Jorge Rita voltou a lembrar que foram decisões políticas "que não têm nada a ver com os agricultores" que colocaram a lavoura na situação delicada que vive nos dias de hoje. Primeiro a abolição das quotas leiteiras, depois o embargo russo, o excesso de produção a nível mundial, a retração do consumo em mercado emergentes e também "os fundamentalistas anti-produtos lácteos" que têm tido voz contrária aos benefícios do leite. Isto, disse Jorge Rita, "quando toda a gente sabe que não há produto alimentar tão completo como o leite".

São essas situações que fizeram "com que as descidas do preço do leite, do rendimento dos agricultores por esta via, fossem bastante acentuadas ao longo dos últimos anos. Estamos a falar de médias, nos Açores, na ordem dos 10 cêntimos. E as subidas têm sido ténues e residuais", afirmou Jorge Rita.

O Presidente da Associação Agrícola de São Miguel declarou que nos Açores a média de subidas é de dois cêntimos, muito aquém das expetativas de retomas do preço do leite que "até hoje não existiram". Foi por isso que Jorge Rita manifestou que enquanto produtor e enquanto representante dos produtores "mesmo com o que se apregoa que se faz na região, onde o governo regional disponibiliza e anuncia apoios para promoção dos produtos, para as feiras, para a inovação, para as indústrias poderem procurar novos mercados, constrange-me que o melhor leite do mundo seja o mais mal pago da Europa, e os produtores não podem ficar satisfeitos com tantos anúncios e com as indústrias a pagar o preço do leite da forma como pagam", reforça Jorge Rita.

Na inauguração do IV Concurso Micaelense Holstein Frísia de Outono, organizado pela Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita pediu novamente que a situação se inverta "porque não vamos aguentar muito mais tempo. É importante que se saiba que os agricultores têm dificuldades. E não somos pedintes, os agricultores reivindicam aquilo que têm direito como todos os setores fazem. Quando está bem, estamos cá para o dizer, e o governo tem feito coisas positivas, mas quando não atua corretamente, somos os primeiros a apontar as deficiências".

Porque o rendimento dos produtores de leite "está a um nível bastante baixo", a reivindicação é que as indústrias aumentem o preço do leite e possam ser competitivas no mercado. "Mas isso não compete aos produtores, aos produtores compete-lhes produzir com qualidade, e alguns são confrontados com a imposição de algumas indústrias de terem de reduzir a sua produção, que é uma situação dramática", explicou Jorge Rita.

Além da questão do baixo preço do leite pago à produção, Jorge Rita enumerou outras questões que dependem do governo regional "e que têm a ver essencialmente com pagamentos". Pagamentos que estão calendarizados e alguns deles que os produtores pretendem ver cumpridos até ao final do ano. "Podemos não concordar, mas percebemos que alguns poderão ser adiados, mas era importante para a lavoura ter alguma tranquilidade em relação a essa matéria porque são ajudas já anunciadas e que são imprescindíveis para o equilíbrio financeiro das explorações", afirmou Jorge Rita.

Nomeadamente a questão do pagamento de 45 euros de ajuda por cada vaca que "foi anunciada com um pressuposto que podia ser por dois anos, que era a expetativa legítima que tínhamos da retoma do preço do leite, mas não existiu a retoma que todos queríamos, porque as melhorias são ainda ténues e residuais. É uma reivindicação de elementar justiça, que os 45 euros se mantenham para São Miguel, Terceira e para todas as outras ilhas que sofreram com a crise do setor leiteiro", explicou.

A propósito do IV Concurso Micaelense Holstein Frísia de Outono, o Presidente da Associação Agrícola de São Miguel afirmou tratar-se de uma oportunidade de ver o que lavradores, criadores e produtores de leite "sabem fazer bem, para além da excelência do seu produto final que é o leite. Excelência da criação e da genética que pode ombrear com qualquer melhoramento que possa ser feito a nível internacional". Jorge Rita lembrou que esse melhoramento também se tem feito com a grande apetência dos agricultores e o governo regional tem também disponibilizado meios e apoios para que isso aconteça, "e temos consciência que por vivermos em ilhas em que a produção de leite tem um impacto muito grande na nossa economia, todos deveríamos trabalhar em prol da qualidade".

Apesar da qualidade dos animais que tem sido possível garantir através do estatuto sanitário, a exportação de genética "ainda é residual para os nossos objetivos e expetativas", já que esta pode vir a ser uma forma de rentabilizar investimentos e capitalizar o trabalho feito nas explorações no melhoramento genético. Existem ainda algumas barreiras, nomeadamente dos transportes, "que dificultam a competitividade na exportação, não só dos lacticínios e da carne, mas também para a genética".

Neste sentido, Jorge Rita afirmou que "o governo tem essa consciência e o trabalho está a ser feito em termos de reivindicação na União Europeia", já que os transportes têm de ter outro tipo de apoios "ao nível do que se exporta, para que possamos ser muito mais competitivos, nomeadamente para as pequenas exportações que existem em muitas das ilhas".

Com esperança que as expetativas da produção sejam satisfeitas "e que no próximo concurso possamos fazer um discurso um pouco melhor", concluiu o Presidente da Associação Agrícola de São Miguel.