Venda de genética para o exterior é negócio que “tem de ser consolidado o mais rapidamente possível” | Agricultor 2000


O Presidente da Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita, diz que na Região há um "património invejável" em termos de genética que deve ser ainda melhor aproveitado para trazer melhor rendimento aos produtores. Na inauguração do V Concurso Micaelense Holstein Frísia de Outono, Jorge Rita voltou a falar no "casamento perfeito" entre o setor agrícola e o setor do turismo, mas lembrou que se o turismo representou no ano passado 82 milhões de euros brutos de receita para a Região, enquanto que só as ajudas do Posei representaram cerca de 77 milhões de euros vindos diretamente da União Europeia, "e que não saem do erário público".

Na inauguração do V Concurso Micaelense Holstein Frísia de Outono o Presidente da Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita, destacou a excelência dos 190 animais a concurso.

Numa "demonstração inequívoca" do trabalho feito com excelência, o principal objetivo da Região é "produzir com qualidade, alocar inovação a tudo o que produzimos, alocar valor acrescentado ao que fazemos, porque não temos escala e essa é a via do sucesso da Região", disse.

Na inauguração de mais um Concurso Micaelense organizado pela Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita lembrou a importância que a nível nacional tem o setor leiteiro dos Açores  que representa mais de 30% do leite produzido, quando nos Açores a superfície agrícola útil é muito inferior à disponível no continente, "o que quer dizer que aproveitamos bem o espaço que nos proporcionam para fazer agricultura". Também ao nível do queijo, os Açores são responsáveis por 50% da produção a nível nacional, e voltando à excelência, 70% das vacas de Portugal com classificação morfológica "excelente" está nos Açores", referiu Jorge Rita.

A Região possui por isso um "património invejável" em termos de genética, "um trabalho iniciado pelo Governo Regional há muitos anos" e que foi transferido para as organizações de produtores que também "souberam fazer com que houvesse esse crescimento com essa qualidade meritória".

No entanto, o Presidente da Associação Agrícola de São Miguel acredita que é possível fazer mais. O Governo Regional "continua a apoiar a genética na Região que é fundamental para o desenvolvimento da raça Holstein Frísia e especialização da mesma com possibilidade de valor acrescentado", mas é preciso pensar em continuar a apostar na venda de genética para o exterior. "Tem acontecido muito esporadicamente, mas este pode ser um negócio que terá de ser, e deve ser, consolidado o mais rapidamente possível. Será também uma forma óbvia dos produtores, na sua exploração, pelo facto de trabalharem em prol da excelência terem algum valor acrescentado e algum mérito naquilo que fazem, não só pela qualidade mas obtendo mais alguma remuneração", explicou Jorge Rita.

Apesar das dificuldades, os produtores apresentam-se a concurso e trabalham em prol da excelência dos seus animais e a prova disso mesmo foram os 190 animais a concurso, propriedade de mais de 60 criadores, que rivalizam com os concursos feitos a nível nacional onde a média de participações são os 120 animais e 30 explorações.

"Nos Açores as pessoas têm amor e paixão por aquilo que fazem. Para ter vacas só quem tem paixão, quem não tem paixão não faz muito sentido ficar neste setor. Isso é que é uma demonstração inequívoca da capacidade de resistência e de resiliência dos agricultores face às dificuldades que são bem evidentes", argumentou.

É que os custos de produção, depois de uma baixa, voltaram a aumentar e isso "teve reflexos negativos em todo o setor. Enquanto não conseguirmos aumentar a receita por aquilo que vendemos na nossa exploração, que é o leite como matéria-prima, vamos ter sempre grandes dificuldades em melhorar o rendimento dos produtores e melhorar este setor de atividade que é tão importante na nossa economia", argumentou Jorge Rita.

E apesar das dificuldades com que se debatem os produtores de leite, "não vejo um consumidor dizer que um litro de leite na prateleira é caro. Comparativamente a qualquer outro produto, o leite e o pão são os dois produtos essenciais mais baratos no mercado. Só que para produzir leite tem um custo e esse custo não é devidamente remunerado e essa situação é que faz com que a lavoura sinta alguma descapitalização", explicou ao acrescentar a necessidade de se dar "o salto" na valorização dos produtos regionais.

Um salto que não compete apenas à produção, que já faz o que lhe compete: "ter animais com qualidade, produzir com qualidade, manter uma paisagem com a marca indelével e intacta da natureza, que é o forte da nossa imagem para todos os setores da nossa atividade, para o turismo inclusive".

Aqui, Jorge Rita voltou a falar no "casamento perfeito" entre o setor agrícola e o setor do turismo que "se complementam perfeitamente" e apesar de lembrar o trabalho de valorização que tem sido feito em vários fóruns acerca dos produtos dos Açores, também lamentou que numa altura em que se realizava em São Miguel o 44.º Congresso Anual da APAVT - Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo, "ninguém se tivesse lembrado de virem ao concurso para que pudessem observar a excelência dos animais aqui presentes".

Mas Jorge Rita ressalvou que o impacto do turismo na economia dos Açores "é extremamente relevante e ninguém pode estar contra, mas também ninguém me leva a mal por puxar a brasa à minha sardinha. Quando oiço os resultados finais de um ano excelente do turismo que deu 82 milhões de euros brutos de receita, lembro que a agricultura tem 77 milhões de euros diretos da União Europeia, por via do POSEI, que não saem do erário público", referiu.

Neste sentido, Jorge Rita lembrou que muitas vezes os agricultores são criticados "por sermos subservientes dos subsídios", mas acrescentou que "quando estamos a reivindicar esse tipo de ajuda, é bom saber de onde é que elas vêm e onde é que elas ficam. Não vamos buscar à saúde, à educação, ou aos transportes, vamos buscar ao Orçamento da agricultura para o qual nós contribuímos. O que pedimos são alterações entre medidas que estão alocadas e que podem ser transferidas para a seca, ou para as necessidades que o setor atravessa", explicou.