Sustentabilidade e optimização de recursos forrageiros em explorações leiteiras | Informações Técnicas


O grande progresso verificado durante as duas últimas décadas no sector leiteiro foi realizado à custa de uma considerável melhoria da capacidade genética dos animais para produzir leite, acompanhada de fortes investimentos na modernização de instalações e equipamentos necessários à produção leiteira. Todavia, paralelamente a todo este progresso, verificou-se uma forte estagnação na prática dos cultivos forrageiros, que fundamentalmente são constituídos por gramíneas estremes fortemente dependentes de fertilizantes azotados e de outros agro-químicos. De facto, o milho como cultura primaveril-estival, quase sempre praticado em rotação com culturas outono-primaveris à base de gramíneas (sobretudo o azevém anual, mas frequentemente também a aveia) constituem ainda hoje a base das culturas forrageiras da maioria das explorações leiteiras. As forragens derivadas de tais culturas, embora ricas em energia, apresentam um considerável défice em proteína, obrigando os produtores a usar elevadas quantidades de alimentos concentrados proteicos para assegurarem elevados níveis de produção leiteira. Estas práticas, além de caras, introduzem no sistema excessivas quantidades de azoto e eventualmente de outros produtos de síntese, que exercem um papel bastante nefasto sobre o ambiente, em particular sobre os aquíferos.

Actualmente, perante a subida constante do preço dos factores de produção, particularmente dos concentrados e dos fertilizantes azotados, e tendo presente a necessidade de reduzir os riscos ambientais das explorações leiteiras mais intensivas, torna-se imprescindível melhorar a qualidade das forragens de cultura Outono-primaveril, substituindo as culturas estremes de azevém ou cereais forrageiros, por consociações biodiversas ricas em leguminosas, capazes de fixar significativas quantidades de azoto atmosférico, e simultaneamente produzir alimentos de maior valor alimentar (maior ingestão, mais proteína e energia metabolizáveis), ao mesmo tempo que permitem reduzir fortemente os gastos com alimentos concentrados e com fertilizantes azotados, melhorando assim a economia e o ambiente das explorações.

Para que a rotação destas duas culturas tenha sucesso é importante que a escolha do ciclo da variedade de milho seja feita em função das contingências climáticas e da data de sementeira, isto é, à medida que as sementeiras são realizadas mais tarde dever-se-á reduzir o ciclo da variedade para que a colheita seja sempre realizada na altura mais apropriada sem comprometer a instalação da cultura seguinte.

A cultura do milho pela importância que adquiriu ao longo dos anos fez com que na maioria das explorações os agricultores assimilassem as práticas culturais adequadas para a produção de silagem de milho de boa qualidade e quantidade, dominando a técnica e obtendo quase sempre bons resultados.

Na cultura Outono-Primaveril à ainda um longo caminho a percorrer. Em primeiro lugar há que consciencializar os agricultores e os técnicos que lhes prestam assistência da importância que pode desempenhar esta cultura na economia das explorações, visto que há potencial e condições para produzir forragem rica em proteína e de excelente digestibilidade. No Outono-Inverno para se obter uma forragem produtiva e de alta qualidade é fundamental ter a mesma disciplina e  critério que existe actualmente para a cultura do milho.

A escolha das espécies e variedades a utilizar em consociação deve ser feita tendo em conta cada um dos seguintes aspectos: adaptação ao tipo de solo e clima, forma de utilização (corte único, múltiplo ou pastoreio), duração do ciclo e valor nutritivo.

A obtenção de forragem de qualidade está dependente de alguns factores que não se podem controlar e que se prendem com as condições climatéricas, no entanto há uma série de operações que podem e devem ser controladas e respeitadas, tais como: fertilização; preparação do solo; data, profundidade e densidade de sementeira; controle de infestantes, pragas e doenças; momento do corte; pré-fenagem; tamanho do corte e conservação.

A análise laboratorial do valor alimentar da silagem é fundamental para se perceber e classificar qualitativamente a forragem de forma a integrar as de melhor qualidade no plano alimentar de vacas leiteiras em produção pois está comprovado que os planos alimentares integrando silagem de milho e de erva rica em leguminosas na proporção de 2:1 (matéria seca), resultam mais eficientes para a produção de leite que os formulados com apenas um tipo de silagem.

 

PALAVRAS-CHAVES: Forragem Outono-primaveril; Leguminosas; Proteína; Redução de custos; Planos alimentares

 

Presa, J. R. e Crespo, D. G.

FERTIPRADO