Melhoramento Genético em Bovinos Leiteiros | Informações Técnicas


O melhoramento genético em São Miguel tem evoluído consideravelmente nos últimos anos, essencialmente devido ao uso da inseminação artificial e algumas transferências embrionárias, em que tem havido uma adesão cada vez maior por parte dos agricultores por reconhecerem a sua utilidade na evolução dos seus efectivos. 

Para se conseguir bons resultados, é importante saber quais as melhorias pretendidas, estabelecendo de seguida o caminho a percorrer, encarando prioritariamente os objectivos que mais interessam na prática, de modo a obter-se uma produção economicamente eficiente.

A acção do melhoramento deve prever objectivos práticos, para que haja uma melhoria dos resultados económicos obtidos na exploração.

Antes de se desencadear as acções do melhoramento é necessário avaliar as qualidades e defeitos dos animais a trabalhar. Assim deve-se avaliar a capacidade produtiva e reprodutiva, e as características morfológicas dos animais, para depois a partir dai proceder-se à avaliação do que se deve alterar.

Deve-se fazer registos dos animais e das suas produções, porque o rigor, na escolha de animais superiores do ponto de vista genético e na avaliação dos progressos feitos, dependerá do detalhe destes registos. Os caracteres de maior importância económica no melhoramento de bovinos leiteiros são a fertilidade, a produção de leite e sua composição em proteína e gordura, o tipo e a duração da vida produtiva.

O tipo de bovinos leiteiros tem tido muita importância, quer em exposições, quer por parte dos criadores ao seleccionarem os seus efectivos, e isto porque a superioridade deste conjunto de caracteres deverá ajudar o animal a manter uma vida produtiva longa. Os aspectos mais desejáveis no tipo são principalmente um bom úbere, umas boas pernas e pés, uma boa capacidade corporal para que o animal consiga ingerir grandes quantidades de alimento.

A produção de leite é avaliada através do contraste leiteiro, que mede a quantidade de leite produzido pelo animal ao longo do ano e a sua composição em gordura e proteína.

A Associação Agrícola de São Miguel presta este serviço aos agricultores, abrangendo neste momento 210 explorações, estando em fase de preparação mais 20 explorações.

No melhoramento há acções que se verificam no próprio animal e outras só se manifestam na descendência, e apresentam-se nas proporções descritas a seguir. As acções que se verificam no próprio animal são as condições climáticas ou factores ambientais, a higiene profilática, a alimentação e o maneio.

As condições climáticas de efeito negativo ou positivo na produtividade actuam nos animais por acção da temperatura, da humidade atmosférica, luz altitude e a própria área geográfica, e influenciam o melhoramento em cerca de 15%.

A higiene profilática (sanidade) cujas acções se situam no âmbito da Medicina Veterinária influencia em cerca de 25% o melhoramento, e exerce-se poderosamente quando aplicada no sentido de luta directa contra as doenças, que atacam isoladamente os animais, ou que têm de ser sujeitos a planos colectivos de luta.

A alimentação que deve ser equilibrada tanto do ponto de vista qualitativo como quantitativo para que possa satisfazer as necessidades de crescimento, manutenção, gestação e produção de leite dos animais desde que nascem até começarem a produzir, concorre em conjunto com o maneio em cerca de 35% no melhoramento animal.

No maneio deve-se ter em atenção às condições de alojamento no caso dos animais estabulados, condições de exploração, à selecção e ao regime de vida.

A acção que se manifesta na descendência através da transmissibilidade dos caracteres é a genética e evidencia-se nas características produtivas e morfológicas do animal, contribuindo para o melhoramento em cerca de 25%.

Existem ainda muitas explorações que utilizam o touro de cobrição natural para beneficiarem as suas vacas.

 Normalmente esses touros não são submetidos a qualquer testagem, dai que só se sabe o real valor genético destes passadas três gerações, ou seja, quando as primeiras filhas começam a parir, com cerca de dois anos. Se eventualmente estes animais foram de baixo valor genético já existe cerca de 50% de animais na exploração filhas destes touros, o que se traduz num enorme retrocesso no melhoramento.

Quando um touro é utilizado sem ter sido sujeito a testagem, não existe qualquer ideia sobre a dificuldade de parto que poderá provocar nas vacas, o que se traduz muitas vezes em perdas de vitelos e mães, sobretudo nas novilhas.

O touro pode ser um meio de transmissão de doenças de origem venérea tais como: IBR, BVD, etc, responsáveis por grande numero de abortos e infertilidade nas vacas.

A Transferência Embrionária (TE), que tem tido algum incremento nalgumas explorações, consiste em colectar após a fecundação o embrião ainda livre no aparelho reprodutor duma vaca dita dadora, para o transplantar no aparelho reprodutivo doutra dita receptora, onde se desenvolverá até à nascença.

As potencialidades desta técnica são:

-Multiplicação do número de descendentes a partir duma vaca de elite, podendo atingir num ano vinte vitelos.

-Utilização das fêmeas logo a partir da sua puberdade, sem que no entanto possuam idade para a gestação.

-Separação precoce do seu ambiente maternal original, produzindo um indivíduo independente.

-A Transferência de Embriões constitui o meio mais seguro no plano sanitário, de troca de genes, de congelação de embriões portadores de genes importantes o que permite a sua comercialização de forma prática e pouco dispendiosa, entre Regiões, Países e Continentes. Por outro lado o vitelo nascido no País que compra o embrião, adapta-se mais facilmente às suas condições ambientais, uma vez que vai ingerir os anticorpos maternos através do colostro.

Os embriões devem ser implantados nas piores vacas da manada, e isto, porque a vaca receptora não vai interferir na constituição genética do embrião, vai servir apenas para o desenvolver, dai que convém aproveitar ao máximo esta potencialidade, ficando as melhores vacas para serem inseminadas com bons touros.

É uma forma de se adquirir bons animais sem se correr o risco da introdução de novas doenças na exploração. No caso do agricultor optar por fazer TE de uma vaca da sua manada, esta deve provir de uma ascendência de animais com provas dadas no melhoramento da manada ou que tenha uma descendência com resultados superiores aos animais do efectivo.

No caso da Inseminação Artificial (IA), os touros utilizados já foram submetidos anteriormente a um exausto e rigoroso sistema de testagem, em que se fez a sua classificação, mediante o resultado das filhas após a primeira lactação, para cada parâmetro produtivo e morfológico.

Para se obter um bom rendimento económico de uma exploração leiteira, tem de se produzir o máximo possível de leite, com maior teor de gordura e proteína, o que se consegue através de um melhoramento genético, adequado e persistente.

Através desta técnica qualquer exploração pode dispor de descendência directa dos melhores touros a nível Mundial.

O produtor pode seleccionar criteriosamente o sémen que melhor lhe convenha em função das características morfológicas ou produtivas a melhorar numa vaca.

A Associação Agrícola de São Miguel tem uma ferramenta importante para auxiliar o agricultor nesta escolha que é o emparelhamento que consiste na conjugação das características morfológicas da fêmea com o macho de forma a obter descendentes melhores que os pais. Neste âmbito, o técnico vai à exploração recolher informação sobre os defeitos e qualidades de cada animal para introduzir num programa que escolhe para cada uma das suas vacas, os 3 touros mais adequados do catálogo de IA.

O emparelhamento permite corrigir os principais defeitos morfológicos das vacas, aumentar a sua longevidade, poupar custos com a genética e eliminar a consanguinidade.

A consanguinidade resulta do emparelhamento entre progenitores que têm um grau de parentesco próximo. Os produtores devem tomar precauções para evitar acasalar animais da mesma família, porque a consanguinidade faz-se acompanhar geralmente do aparecimento de defeitos genéticos e de uma diminuição na produção.

A consanguinidade em bovinos leiteiros nem sempre origina efeitos adversos, podendo haver certos pais e mães consanguíneos muito bons para elevadas produções, mas deve-se evitar, porque é frequentemente prejudicial, devido a uma grande ocorrência de defeitos recessivos, maior percentagem de mortalidade embrionária e menor produção de leite.

A IA permite ainda um controlo das doenças venéreas que se transmitem através do contacto sexual entre macho e fêmea, e que são responsáveis por problemas graves de abortos, retenção placentária e infertilidade, e traz ainda segurança na continuidade do melhoramento.

Existem ainda outras doenças nalgumas explorações que provocam prejuízos devido aos abortos e infertilidade e seguidamente obrigatoriedade de abate no caso da brucelose. Uma exploração que tenha melhorado geneticamente os seus animais quando se depara com a brucelose, tem sempre alguns prejuízos porque normalmente afectam os animais no início da sua vida produtiva.

 O Plano Global de Sanidade apresentado pelo Secretário Regional da Agricultura e Florestas, propõe combater uma série de problemas em que a maioria deles afecta a rentabilidade das explorações em termos de produção não tendo consequências a nível de saúde pública.

No entanto é importante que este plano seja posto em prática com eficiência e determinação e que não haja interrupções a meio do percurso, para se conseguir o objectivo pretendido de forma a eliminar ou pelo menos reduzir a nível mínimo a incidência das doenças apresentadas.

Assim, desta forma poderemos obter mais algum rendimento por um melhor aproveitamento da genética existente nas explorações, e poderemos ainda exportar para o continente e outros países, novilhas com boa qualidade genética, indo de encontro à procura verificada nos últimos anos.

 

Eng.º Valter Melo