Notícias de Genética março 2009 | Informações Técnicas


Actualmente um dos temas mais discutidos na comunicação social é a difícil situação financeira mundial, que de uma forma directa ou indirecta afecta o rendimento das nossas explorações agrícolas.

Chegou à hora de valorizarmos mais a rentabilidade da nossa exploração. Infelizmente não podemos controlar o preço do leite, da água, da luz, do gásoleo nem da mão de obra, mas podemos sim controlar e mudar a gestão da nossa exploração, de forma a aumentar os níveis de rentabilidade económica da mesma. É fundamental parar um pouco e pensar para nós próprios se de facto a nossa exploração é rentável da forma como está.

 

- Tenho uma boa comida

para as minhas vacas?

- Tenho uma boa rotina

e higiene na minha ordenha?

- Tenho as minhas vacas

saudáveis?

- Tenho uma boa recria

das minhas vitelas?

- Tenho um bom programa

genético?

- Tenho os meus animais

em condições de higiene

e conforto?

- Tenho a minha exploração

de sonho?

 

Estas são questões muito importantes que cada produtor deve interiorizar, mas na minha opinião a mais importante é saber responder à seguinte: Tenho vacas boas? E a partir desta temos uma segunda: As minhas vacas são capazes de comer e produzir, sem dificuldades, grandes quantidades de leite, durante muitos anos, com um gasto razoável? Na minha opinião estas são duas questões fundamentais para a solução do aumento da rentabilidade da nossa exploração. Não é necessário ter salas de ordenha muito bem equipadas, nem logetes, nem estábulos cobertos, etc. é preciso sim ter vacas rentáveis, vacas boas. Claro que é necessário ter condições físicas e tentar melhorá-las sempre, mas é fundamental primeiro melhorar o património genético da nossa manada. Só assim podemos rentabilizar a nossa exploração, porque as vacas boas são aquelas que duram mais, portanto facturam mais e por consequência são mais rentáveis.

Para comprovar este argumento, existe um estudo estatístico elaborado pela AFRICOR (Espanha), no ano de 2006, que relaciona TIPO, LONGEVIDADE e PRODUÇÃO VITALICIA. O estudo teve por base 51 422 vacas contrastadas e classificadas em Espanha. Este registo técnico vem comparar a produção média de uma vaca com a sua classificação morfológica. Tal como em Portugal, todas as vacas contrastadas, são classificadas pelo menos uma vez na sua vida produtiva, normalmente são classificadas na 1ª lactação, podendo ou não ser reclassificadas se melhorarem os seus caracteres primários.

A classificação morfológica é uma técnica metodológica da avaliação dos animais das raças leiteiras. Faz-se a avaliação de 16 regiões anatómicas de cada vaca (Estatura, Profundidade Corporal, Inserção do Úbere Anterior, Pernas Vistas de Lado, etc.) atribuindo-lhe uma pontuação de 1 a 9. Depois são classificadas as 5 grandes regiões (Estrutura - 15%, Capacidade Corporal - 10%, Pernas e Pés - 15%, Sistema Mamário - 40% e Carácter Leiteiro - 20%) atribuindo-lhes uma pontuação de 65 a 100 pontos. No final, obtemos a classificação final do animal.

Atendendo à tabela nº1 verifica-se o seguinte:

- Que as vacas com pontuações abaixo dos 74 pontos têm produções baixíssimas em relação aos outros animais;

- As vacas com mais pontuação são aquelas que produzem mais leite por lactação;

- Se compararmos as categorias com a diferença de 5 pontos, isto é, as vacas com 70 pontos com as de 75 pontos, têm uma diferença de 804 kg em cada lactação, as vacas de 75 pontos com as de 80 pontos têm uma diferença de 999 kg e as de 80 pontos com as de 85 pontos existe uma diferença de 1 673 kg.

- Podemos constatar também que são as vacas com pontuação superior a 87, que ultrapassam os 11 000 kg de leite por lactação.

- Em termos práticos, numa vaca de 78 pontos em relação a uma vaca de 85 pontos, tem uma diferença de 2 245 kg numa só lactação. Supondo que 1 litro de leite são 0.30 € existe um ganho de 673.5 € de um animal para o outro.

- Comparando duas explorações agrícolas com 30 animais, uma com média de 79 pontos e outra com média de 83 pontos do seu efectivo, existe uma diferença entre ambas de 1048 kg de leite. Supondo que 1 litro de leite são 0.30 €, a exploração com média de 83 pontos tem um ganho de 314,4 € por animal em relação à outra exploração, o que perfaz um total de 9 432 € a mais de rentabilidade no final do ano, uma vez que a despesa é a mesma.

Na tabela nº 2 as vacas com classificação Insuficiente são as que duram menos anos de vida, logo têm um número de partos mais baixo, como consequência uma produção vitalícia (produção de leite em toda a sua vida) muito baixa. Os animais pontuados com mais de 85 pontos são aqueles que têm mais partos, logo a sua produção vitalícia é muito superior em relação às outras classificações. É necessário relembrar que os custos associados à recria são os mesmos tanto para um animal que irá ser bom ou não.

Em suma, o objectivo principal para um produtor de leite é ter vacas rentáveis. E para ter vacas rentáveis é necessário ter vacas boas. Só assim existe a possibilidade de aumentar o rendimento da sua exploração nestes tempos de crise que se avizinham para o sector agro-pecuário.

 

Bruno Almeida

Engenheiro Zootécnico