Mastites: perdas na produção de leite | Informações Técnicas


Considera-se a nível mundial que as três maiores perdas na produção de leite mundial são as derivadas de problemas de patas, fertilidade e mastites. A ordem de importância delas varia, assim com as estimativas da perda económica que originam. No entanto, creio que é ser consensual a importância destes três temas.

Relativamente às mastites, existem alguns termos e conceitos que é importante clarificar.

- Mastite: inflamação da glândula mamária, causada quase sempre por infecção bacteriana.

- Causa da mastite: O aparecimento de uma nova infecção surge da interacção de três factores: animal, bactéria e ambiente. No animal são muito importantes o estado de saúde geral e imunitário. Diferentes fases da lactação também tem diferentes riscos, sendo o peri-parto o período de maior risco, por debilidade dos animais. Quanto às bactérias, diferentes espécies ou variedades apresentam diferente potencial para causar doença. Todos os dias bactérias entram pelo esfíncter, no entanto o animal liberta-se delas. Quando são bactérias muito agressivas, ou o animal está menos bem ou ainda quando a quantidade é demasiado grande temos a mastite. Os factores do ambiente entram neste ultima caso, a quantidade de bactérias que tem acesso ao interior do úbere, sendo importante o alojamento dos animais, máquina da ordenha, ordenhador, locais onde as vacas se deitam, etc.

- Agente causador: a maioria das mastites são causadas por bactérias, no entanto também podem ser causadas por algas (geralmente quando a ambiente dos animais é muito húmido), por leveduras (quase sempre devido a má higiene quando se aplicam injectores mamários). No caso das algas ou das leveduras, os antibióticos não tem qualquer actuação, sendo a probabilidade de cura baixa. Podem também existir mastites causadas por vírus, no entanto são extraordinariamente raras.

- Mastite clinica: existem alterações visíveis na vaca ou no leite (por exemplo: vaca apática, úbere inchado, úbere quente, leite com aspecto de "aguadilha", leite com "natas".

- Mamite subclínica: não existem alterações visíveis no leite ou na vaca, apenas aumento das células somáticas.

- Células somáticas: conjunto de células que surgem no leite, fruto da escamação normal do epitélio e células do sistema imunitário que se deslocam do sangue para o interior da glândula mamária, para combater as infecções. Quando ocorre um aumento de células somáticas, ele deve-se ao aumento das células do sistema imunitário, sendo sinal de infecção (clinica ou subclínica).

- Mastite cronica: Mastite, em um dos quartos ou vários, que perdura durante vários meses. Os seus sintomas podem ser contínuos ou intermitentes (umas alturas está melhor e parece ter curado, existindo depois recaídas). São tradicionalmente causadas por agentes contagiosos.

- Entrada do agente: com excepção do Mycoplasma, todos os outros agentes entram no úbere pelo esfíncter. Dai ser tão importante a sua protecção no final da ordenha.

- Bactérias contagiosas e ambientais: tradicionalmente considerava-se que as bactérias seriam contagiosas (por exemplo  Stap. aureus ou Strep. Agalactia) quando existia possibilidade da bactéria se manter no animal e transmitir a doença a outros animais, enquanto que as bactérias contagiosas (E. coli ou Klebsiella), considerava-se existirem habitualmente no ambiente, causando esporadicamente infecções sem potencial de transmissão. Hoje sabemos que estas definições não correspondem á realidade, não sendo preto ou branco, estando quase todas as bactérias entre contagiosas e ambientais e muito poucas em cada um dos extremos.

- Tratamento e cura da mastite: Para muitos agentes a taxa de cura, mesmo com a medicação mais adequada é baixa e os custos elevados. Um estudo realizado em Portugal refere custos de tratamento entre 200 e 250€, considerando medicamentos, leite perdido, mão de obra, etc. Além disto, infelizmente a nossa medicina ainda não desenvolveu soluções bastante eficazes para este problema. No entanto uma das formas de aumentar a taxa de cura, é realizar o tratamento durante o período seco. As opções de tratamento devem ser discutidas com o seu veterinário assistente, que o pode auxiliar a elaborar um plano racional e eficaz.

- Medidas de prevenção com retorno comprovado: Conforme referido, o tratamento é muito caro e pouco eficaz. Por esse motivo é essencial estar focado na prevenção. A utilização de um pos dip está estudada e comprovada á mais de 50 anos, levando a uma redução das novas infecções na ordem dos 50%. Outra medida com retorno comprovado é a utilização de um antibiótico de secagem, para cura e prevenção. A implementação desta medida deve ser discutida com o seu veterinário assistente. A utilização de um pre dip também apresenta bons resultados quando associado a boas práticas de higiene da ordenha. Tudo o que melhorar o ambiente dos animais e a sua resistência ira ajudar na prevenção do problema, como uma alimentação equilibrada, com bons níveis de vitaminas e minerais e sem grande contaminação de micotoxinas.

 

Rui Cepeda

Médico Veterinário

Zoopan