
Fábrica de Rações Santana
A Nutrição ao Serviço da Lavoura
A Feira Agrícola Açores 2025 decorreu de 26 a 29 de junho no Parque de Exposições de São Miguel, em Santana. Integrou workshops, demonstrações de equipamentos agrícolas, provas e concursos de produtos regionais e concursos pecuários, com destaque para o XXI Concurso Micaelense da raça Holstein Frísia, que distinguiu a vaca 'Milka', de Nuno Bernardo Araújo Amaral, de Ponta Garça, como grande campeã entre cerca de 200 animais a concurso. O evento foi oficialmente inaugurado sexta-feira, dia 27 de junho, numa cerimónia de grande simbolismo que decorreu nas instalações da Associação Agrícola de São Miguel, em Santana. O evento contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do Presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, e do Presidente da Federação Agrícola dos Açores e Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita, entre outras entidades.
Na sessão inaugural, Jorge Rita, fez um discurso firme e inspirador, enalteceu o papel da Feira Agrícola Açores como uma montra do esforço e dedicação dos agricultores açorianos, num evento que une tradição, inovação e partilha de experiências em torno de um setor vital para a economia da região.
"Esta feira é uma montra da excelência da agricultura açoriana e um ponto de encontro entre produtores, empresas e a sociedade civil, por outro lado também uma montra do trabalho acumulado ao longo dos anos, um espaço para mostrar o salto qualitativo que tem sido dado apesar das dificuldades", afirmou Jorge Rita, perante uma plateia atenta composta por agricultores, decisores políticos, empresários e população em geral.
Na cerimónia oficial de abertura da Feira Agrícola Açores 2025, Jorge Rita destacou a importância deste certame como reflexo do trabalho contínuo e apaixonado dos agricultores ao longo dos anos. Para o dirigente da AASM, a feira não é apenas um espaço agradável, mas sim um palco de excelência onde se espelha a evolução do setor agropecuário açoriano - desde o melhoramento genético nas produções leiteiras e de carne até ao crescimento sustentável das hortícolas, frutícolas, florícolas e vinícolas.
Jorge Rita reforçou o compromisso da Federação Agrícola dos Açores e da Associação Agrícola de São Miguel (AASM), em continuar a lutar pelos interesses dos produtores açorianos, promovendo simultaneamente o progresso técnico e económico da atividade agrícola no arquipélago. Num discurso marcado por um forte sentido de missão, destacou ainda o papel dos agricultores como pilares da sustentabilidade alimentar e da coesão social nas ilhas. Com esta edição, a Feira Agrícola reforça o seu papel como símbolo de orgulho e resiliência dos agricultores açorianos, num setor que continua a reinventar-se e a projetar os Açores para o futuro.
Agricultura de Excelência e Especialização Regional
A Feira de 2025 contou com cerca de 200 animais Holstein-Frísia em concurso, além de cerca de 60 bovinos das seguintes raças (Autóctone Ramo-Grande, Charolesa, Aberdeen Angus, Limousine e Simmental - Fleckvieh). Este evento reuniu ainda setores como o agroalimentar, as tecnologias agrícolas, a maquinaria e o artesanato, reforçando a transversalidade e importância da agricultura na identidade e economia dos Açores. Jorge Rita salientou ainda a clara especialização regional na produção de leite e no melhoramento genético, reconhecendo o empenho dos produtores em alcançar elevados padrões de qualidade. A união dos agricultores das diversas ilhas, promovida na feira, cria um ambiente de confraternização e partilha, contribuindo para uma agricultura mais coesa e solidária.
Resiliência, Juventude e os Desafios Atuais
Apesar do ambiente de celebração, o Presidente da AASM não deixou de alertar para os desafios que o setor enfrenta, entre os quais se destacam a escassez de mão-de-obra, a difícil transição geracional, a fragilidade do sistema de transportes marítimos e as portarias regionais que permanecem por pagar aos agricultores:
Atualmente o modelo de transportes marítimos não está a cumprir o seu desígnio, está desajustado da nossa realidade e necessidades da nossa economia. Precisamos de um porto que funcione como um verdadeiro motor logístico e económico, e não como um travão ao desenvolvimento regional. Os investimentos não podem ser adiados por mais tempo. Os transportes marítimos têm sido, desde sempre, um constrangimento para o desenvolvimento do setor agrícola nos Açores.
Uma outra realidade é a grande dificuldade em recrutar trabalhadores para o setor leiteiro, hortícola, frutícola e florícola, segundo Jorge Rita, é uma das maiores preocupações atuais, "estamos a passar por uma situação dramática pela falta de mão-de-obra, talvez um dos maiores obstáculos da agricultura nos Açores", sublinhou.
De seguida, centrou a sua intervenção na questão do preço do leite, referindo-se ao recente anúncio feito por Jorge Costa Leite, administrador da Insulac. Apelou ainda à compreensão das indústrias face às dificuldades que o setor atravessa: "É um desafio para os nossos industriais perceberem claramente as dificuldades que enfrentamos. Penso que esse entendimento existe. Mantemos diálogo com todas as indústrias."
Sobre as verbas que permanecem por liquidar aos agricultores, o presidente da Federação Agrícola dos Açores, disse ainda, "anteriormente, denunciei claramente o Partido Socialista, que estava na governação por haver uma discriminação negativa para os agricultores dos Açores. E agora, denuncio o Governo da República por continuar com essa discriminação", afirmou, sublinhando que tanto os Açores como a Madeira fazem parte do território nacional: "Quando se pede autorização na União Europeia e se diz que são ajudas nacionais, que eu saiba Açores e Madeira 'são nacionais'."
Embora tenha reconhecido que a questão dos rateios foi resolvida, destacou que continuam por pagar 19 milhões de euros em ajudas diretas aos produtores açorianos, além de 3,3 milhões relativos ao gasóleo agrícola. E reforçou: "Que fique bem claro: não podemos perder esta batalha, vamos continuar a reivindicar, que consideramos justo."
Em relação aos compromissos assumidos pelo Governo Regional, Jorge Rita reconheceu que "quase todos" os apoios prometidos foram cumpridos, mas advertiu que há ainda pagamentos em atraso. "A expectativa que nós temos é que eles sejam cumpridos o mais rapidamente possível, porque nós acreditamos, Sr. Presidente, na sua pessoa", declarou, dirigindo-se ao líder do Executivo açoriano.
Quanto à renovação geracional, embora existam incentivos e condições mais favoráveis à modernização das explorações, ainda persiste um problema mais profundo: a falta de confiança dos jovens no futuro da agricultura. Rita defende que é urgente envolver todos os atores - desde o governo às indústrias e às organizações de produção - na construção de um ambiente de confiança que motive os jovens a investirem neste setor.
Neste sentido, iniciativas como o concurso juvenil e a presença de cerca de novecentas crianças no evento assumem um simbolismo especial. Uma palestra sobre o benefício nutricional do leite no dia-a-dia das famílias marcou um momento educativo e inspirador, numa tentativa de aproximar as novas gerações do mundo agrícola.
Valorizar o Que É Nosso
A par das atividades agropecuárias, a Feira mantém a aposta na valorização da cultura local. A animação musical e os espetáculos continuam a privilegiar talentos regionais - a chamada "prata da casa" -, promovendo a cultura açoriana num espaço de orgulho e visibilidade. "Valorizamos o que é nosso, não só na agricultura, mas também na cultura. A feira é o palco ideal para dar notoriedade ao que temos de melhor", reforçou o Presidente da AASM.
Compromisso Coletivo para um Futuro Sustentável
A edição de 2025 decorre num ano de menores preocupações em comparação com anteriores, mas Jorge Rita fez questão de lembrar que o sucesso da agricultura açoriana depende de um esforço coletivo, entre produtores, governo, patrocinadores, comunicação social e sociedade civil. "Todos têm de perceber que não há futuro sem jovens. Se queremos que a agricultura continue nos Açores, temos de garantir que os jovens sentem confiança para investir no setor", sublinhou.
Ao concluir o seu discurso, sublinhou que "Agricultores, além de serem genuínos, são pessoas especiais. (…) Nós temos uma guerra à porta mas a maior segurança e defesa, que podemos ter é se tivermos alimentação, e isso faz-se com os agricultores".
Este evento assume-se, assim, não apenas como uma celebração do setor, mas também como uma plataforma de consciencialização, formação e valorização de um património agrícola que é essencial preservar e renovar. O certame volta a afirmar-se como o maior evento do setor primário da Região, proporcionando um espaço privilegiado para a promoção dos produtos locais, a partilha de conhecimento técnico, a inovação tecnológica e o convívio entre o mundo rural e a sociedade em geral. A presença das mais altas figuras do Estado e do Governo Regional na cerimónia veio reconhecer publicamente o contributo vital da agricultura açoriana para a economia nacional e para a preservação do modo de vida rural.