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“Se conhecer o seu inimigo e se conhecer a si próprio, não tem que recear o resultado da batalha” Sun Tzu

 

Células somáticas e mamites subclínicas – o inimigo escondido

As células somáticas são as células que podemos encontrar no leite com origem na vaca. Há sempre um número de células somáticas presentes, que resultam da escamação do epitélio e de células imunitárias que migraram para a glândula mamária.

Numa vaca saudável, o seu valor está abaixo das 200.000 células somáticas/ml (na primeira lactação o limite baixa para 150.000).

Em termos teóricos, muitos fatores podem contribuir para um aumento de células somáticas, no entanto um aumento significativo das células somáticas está sempre associado a uma infeção.

Quando estamos perante um animal cujo leite está normal e sem qualquer sintoma de doença, mas contagem de células somáticas acima das 200.000, consideramos que existe uma mamite subclínica.

Conseguimos detetar estes animais através de testes como os efetuados no contraste leiteiro ou o teste californiano de mastites (TCM), não sendo possível detetar a mamite subclínica olhando para a vaca ou para o leite.

A mamite subclínica apesar de invisível têm uma grande importância. A primeira delas é que uma vaca com mamite subclínica pode estar a contaminar o material de ordenha e a infetar outras vacas. Outro aspeto muito importante é a perda de potencial produtivo. A ultima implicação, mas não menos importante, é que estes animais podem estar a contribuir para uma penalização no preço do leite.

Há dois conceitos que não convém misturar. Uma coisa é a contagem de células somáticas de uma vaca, ou mesmo de um quarto e outra coisa é a contagem de células somáticas no tanque do leite.

Para uma contagem de células somáticas de 500.000 no tanque, existe uma perda de cerca de 6% do potencial produtivo, ou seja, numa exploração com 70 vacas e produção média diária de 28 L, serão 3.528 l de leite por mês ou 1.093€ (com preço do leite a 0,31€/L) ou 13.124€ por ano.

Existem também perdas por rejeição de leite de quartos tradicionalmente problemáticos, que sendo mais difíceis de avaliar, representam em alguns casos perdas significativas.

Se o aumento das células somáticas se deve a novas infeções ou ao “reativar” infeções crónicas e pode ocorrer de um dia para o outro, a redução é mais difícil. Um animal pode demorar mais de 40 dias a voltar ao valor normal, depois de curado. Normalmente a descida rápida destes valores é conseguida com refugo de animais ou rejeição de leite.

A saúde do úbere é uma das maiores problemáticas na produção de leite em qualquer parte do mundo. O conhecimento das vacas problemáticas “invisíveis” é essencial para conseguir e manter um ótimo estado da saúde do úbere.

Rui Cepeda

Médico Veterinário