Opções de melhoramento dos bovinos leiteiros em São Miguel | Informações Técnicas


Os bovinos existem nos açores desde a sua colonização, sendo que no passado, tinham como finalidade trabalho e complemento produtivo de leite e carne, uma vez que as produções indústrias existentes eram tabaco, beterraba, chicória, trigo. A partir dos anos oitenta, devido a um conjunto de fatores como as alterações de mercado, globalização, evolução dos transportes e dos próprios sistemas de produção, estas culturas começaram a perder importância na economia açoriana. Por sua vez, a exploração de gado bovino para a produção de leite, foi crescendo progressivamente, até se tornar no sector mais importante da economia açoriana.

Com o reconhecimento das potencialidades do setor houve a necessidade de promover o melhoramento genético dos bovinos da região. Inicialmente este processo efetuou-se com a importação de reprodutores, mas sem dúvida que foi a inseminação artificial que revolucionou o melhoramento genético na região.

Os Serviços de Desenvolvimento Agrário de São Miguel deram início á técnica de inseminação artificial na ilha de São Miguel. Contudo, a sua vulgarização deu-se nos finais da década de oitenta, quando a Associação Agrícola de São Miguel deu início á prestação deste serviço.

No início da criação deste serviço, os técnicos envolvidos no melhoramento genético identificaram que os pontos onde se devia intervir era a produção de leite, melhoramento do sistema mamário e pernas e pés, sendo estes os caracteres que mais influenciaram a escolha dos reprodutores a utilizar, reprodutores estes que eram selecionados com base no seu pedigree e na prova de descendência, o que originou vacas mais uniformes do ponto de vista morfológico, mais funcionais e que passaram a produzir mais leite e matéria seca.

Desde o início a Associação Agrícola de São Miguel, assim como outros sub-centros sempre colocaram á disposição dos agricultores uma vasta oferta de reprodutores de várias raças, quer de leite, quer de carne. Ao longo dos tempos, com base na oferta de sémen, ou influencias de mercado, várias foram as "experiencias" efetuadas pelos produtores, nas suas explorações em termos de cruzamentos e/ou raças puras leiteiras, desde a Jersey, Montbeliarde, Vermelha Sueca, Parda Suíça. Contudo, a raça Holstein-Frísia em São Miguel, assim como no resto mundo, continua a ser a que tem maior expressão como raça de produção de leite, e representa 94% do sémen de leite comercializado pela Associação Agrícola de São Miguel, enquanto que as outras raças leiteiras totalizam apenas 6% das vendas. Este facto deve-se sobretudo, à produtividade da raça, temperamento, precocidade, adaptação geográfica, a possibilidade de utilização em cruzamentos industriais (carne), assim como a valorização genética do mercado.

A pressão de melhoramento de qualquer raça, traz melhorias e inconvenientes, e raça Holstein-Frísia não é indiferente. Ao longo dos anos intensificou-se o melhoramento e a seleção sobre caracteres produtivos, depreciando-se caracteres de saúde e fertilidade reduzindo a vida produtiva dos animais. Contudo, o melhoramento genético é um processo continuo e evolutivo, de procura da maximização do potencial animal para obtenção de rentabilidade em função das exigências de mercado. Na atualidade, verifica-se que a tecnologia no melhoramento bovino tem dado grandes passos, sobretudo com a genotipagem, o que permite conhecimento de inúmeros caracteres, produtivos e de saúde invertendo-se o caminho que estava a ser praticado. O aparecimento de programas informáticos de emparelhamento, também auxilia no processo de melhoramento animal, indicando a melhor opção de cruzamentos para a maximização dos resultados pretendidos.

A Associação Agrícola de São Miguel, sempre teve a preocupação de possuir um variado leque de touros e raças, ao dispor do agricultor, assim como tecnologias e informações atualizadas para auxiliar a obtenção dos resultados pretendidos. O produtor micaelense tem á sua disposição um conjunto de técnicos, de ferramentas e tecnologia, com a possibilidade de genótipar os seus animais e realizar o seu emparelhamento em programas informáticos, selecionando desta forma os reprodutores que mais satisfazem os objetivos da exploração.

Nos dias atuais, a oferta de reprodutores é extremamente variada, mas constata-se que os produtores, procuram animais morfologicamente equilibrados e que os caracteres de saúde, fertilidade, vida produtiva, componentes do leite gordura, proteína, e até o tipo de proteína (Beta-Caseína e K-Caseína), passaram a ter grande impacto no processo de seleção dos reprodutores, uma vez que têm influência direta na rentabilidade das explorações.

No entanto, cabe ao produtor analisar a sua exploração, definir os objetivos que pretende alcançar, utilizando as opções genéticas, as ferramentas informáticas e o auxílio de técnicos que tem ao seu dispor, caso assim pretenda.

HENRIQUE MONIZ LOURENÇO

ENG.º ZOOTÉCNICO