Milho forrageiro - Boas práticas de ensilagem | Informações Técnicas


A silagem de milho desde à muito que é realizada pelos lavradores açorianos, com intuito não só de ocupar as pastagens que se tornam pouco produtivas durante o verão, mas também por ser uma forragem de Primavera-Verão que produz grande quantidade de matéria seca por alqueire, para além de apresentar características óptimas para ser ensilada. Embora seja uma cultura com um baixo teor de proteína, apresenta teores de energia muito interessantes para o gado leiteiro. O seu valor nutritivo, que não se encontra unicamente na maçaroca mas também no caule e nas suas folhas, poderá variar consoante o estado em que colhemos esta cultura. Ora para que se possa colher o milho no estado ideal e para que o milho ensilado chegue à manjedoura do gado leiteiro com um valor nutritivo semelhante ao da forragem em verde, deverá ser tido em conta um conjunto de "Boas práticas de ensilagem". Não basta escolher as melhores variedades do mercado, nem ter terrenos com excelente aptidão para a cultura do milho. Os terrenos e as variedades por si só não conseguem colmatar muitos dos erros que são cometidos ao ensilar.

A campanha dos milhos forrageiros encontra-se praticamente na recta final. O lavrador que ainda tem milho na terra já só conta o número de dias que falta para terminar o ciclo da variedade e observa a maturação fisiológica do grão para proceder ao corte desta forrageira no ponto ideal. Nesta campanha de 2011, como todos nós sabemos, foi iniciada, à sementeira, com condições climáticas pouco abonatórias para esta cultura, onde esteve sempre presente, até inícios de Junho, temperaturas baixas e, praticamente até aos últimos estádios de desenvolvimento vegetativo, muito pouca precipitação. Em termos gerais, estas condições originaram plantas de porte baixo e com uma maçaroca inferior ao que seria de esperar.

Se em produções normais é importante cumprir as "Boas Práticas de Ensilagem", em anos de fraca produção torna-se ainda mais imperioso a necessidade de cumprir as Boas Práticas, evitando ao máximo a ocorrência de perdas qualitativas e quantitativas.

Assim sendo, neste artigo irei apresentar algumas "Boas Práticas de Ensilagem" que entendo serem importantes e, também, por serem aquelas que tenho verificado alguma dificuldade dos lavradores em executá-las.

A verificação do estado de maturação óptimo para determinar o dia de colheita será o primeiro ponto que o lavrador deverá analisar no campo antes de colher o milho. A escolha de um momento errado para colher resultará em perdas de qualidade da silagem e, por vezes, em deficiências na conservação do milho ensilado.

Ainda são muitos os lavradores que usam a "técnica da unha" ou a observação da camisa (folhas modificadas) da maçaroca para definir o dia de colheita. Estas técnicas já se encontram ultrapassadas por não permitirem definir com algum rigor o momento ideal de colheita. Para além disso, os lavradores ainda têm a tendência a antecipar a data de colheita por vários motivos, entre os quais: receio que venha a  surgir a acama dos milhos pelos ventos fortes, aproveitamento do terreno para sementeira da pastagem antes que as condições sejam as menos propícias para os trabalhos pós sementeira e para o desenvolvimento das plantas.

A escolha do momento ideal para a colheita do milho forrageiro deverá envolver três pontos - a maturidade, o teor de humidade e a sanidade das plantas - com o intuito de proporcionar a maior quantidade de matéria seca com o melhor valor nutritivo.

Existem diversas formas de saber se está perante o momento ideal de corte. Um dos métodos é a determinação da maturação fisiológica - quando o grão fica completamente desenvolvido -  pela formação da camada negra (black layer) que poderá ser observada ao  quebrar-se a "ponta" da base do grão de milho. No entanto, este método apresenta algumas limitações porque, por vezes, pode ocorrer a formação precoce da camada negra, por razões de stress ambiental (temperaturas muito baixas, seca, ensombramento, entre outros) e por não permitir definir os diferentes estádios reprodutivos.  A observação da linha de leite é uma outra técnica que tem sido muito utilizada por ser prática e por atender minimamente às condições necessárias para se colher o milho no ponto ideal a ensilar. Embora saiba-se que a determinação por este método pode ser, por vezes, enganosa, uma vez que o teor de humidade da planta varia entre as diferentes variedades de milho híbrido. A linha de leite é uma divisão visível na face oposta ao embrião que faz a transição da zona que já se encontra preenchida por amido para uma a zona esbranquiçada que ainda está acumular amido, sendo o preenchimento feito do topo para a base do grão. Quando o grão de milho apresenta a linha de leite entre 1/2 e 2/3, podemos dizer que teremos aproximadamente 28 a 35% de matéria seca, sendo este momento óptimo para realizarmos a colheita do milho. Será importante referir, que embora esta seja a técnica mais prática para os lavradores, como já foi referido acima, a técnica mais correcta seria pela determinação da matéria seca das plantas inteiras, cortando e secando algumas plantas da parcela a ensilar.

A silagem de milho com qualidade terá que conter entre 30 e 35% de matéria seca, evitando colher com menos de 28% de matéria seca, pois as perdas de nutrientes por lixiviação poderão ser significativas, ou com mais de 36% de matéria seca que tornará a compactação da silagem mais dificil de alcançar, para além de existir o risco do grão passar intacto no animal sem ser aproveitado. Além disso, convém não esquecer que mais da metade da matéria que estamos ensilar são caules e folhas, de modo que é importante que estes orgãos apresentem uma boa sanidade e um bom stay green. Algumas variedades de milhos híbridos não são os mais adequados para ensilar por secarem rapidamente ao atingirem o estádio de maturação fisiológica, ocorrendo uma perda de qualidade. Nestes casos, será preferível colher um pouco mais cedo. Ao analisar a quantidade humidade na planta, tenha em mente que a planta completa perde cerca de 0,5% de humidade por dia em condições normais e, em condições de tempo quente e seco, perde mais de 1%. Por exemplo, se um planta apresentar 75% de humidade (25% de matéria seca), significa que em condições normais deverá esperar-se 10 dias para colher o milho com 30% de matéria seca, embora saiba-se que a perda de humidade varia com o tempo e as variedade de milho híbrido.

Após ter sido encontrado o dia para o corte, o lavrador deverá ter em atenção a importância do tamanho das partículas de milho. O tamanho das partículas de milho terá efeitos no processo de conservação e na eficiência alimentar do gado leiteiro. Este ponto tem gerado alguma discussão, pois depende de diversos factores. O teor de humidade existente no milho forrageiro terá influencia no tamanho das partículas. A silagem de milho com um valor de matéria seca muito alto terá que ser colhida com partículas de menores dimensões e o grão deverá ser totalmente partido. Se os rolos corn cracker estiverem regulados para 1 mm e o milho forrageiro encontrar-se ainda muito húmido, teremos possivelmente perdas elevadas por lixiviação de nutrientes. As diferentes variedades de milho também poderão ter influencia na afinação do tamanho das partículas, existem variedades que possuem grãos de textura macia, não necessitando de serem demasiado processados.

A importância do tamanho das partículas na compactação do silo também é facto importante a salientar. Sabe-se que as partículas de pequena dimensão permitam uma compactação mais eficaz pela eliminação e pela dificuldade que criam à entrada de oxigénio, gerando, por conseguinte, uma maior capacidade de silo. Um outro facto que surge ao utilizar partículas de menores dimensões, é o aumento da ingestão por parte do animal, permanecendo a silagem menos tempo no rúmen, de forma que a ruminação, principalmente da fibra, pode ser menor.

  Assim sendo, a afinação das ensiladores deverá ter sempre como base de decisão alguns parâmetros: o teor de matéria seca do milho a ensilar, a variedade de milho forrageiro e, também, o tipo de silo. Duas afinações poderão ser feitas nas ensiladoras: o tamanho teórico de corte e a abertura dos rolos "corn cracker", as quais segundo a University de Illinois deveriam ser realizadas de acordo com a tabela (1).

O terceiro ponto que merece ser comentado é o enchimento e a compactação do silo. O enchimento do silo deverá ser feito no menor intervalo de tempo possível, evitando a exposição do ensilado ao ar e à chuva. A compactação no silo tem por objectivo eliminar a maior quantidade de oxigénio possível do interior do milho no silo, com intuito de favorecer as fermentações desejáveis no processo de ensilagem do milho. Para que se consiga obter uma boa compactação, de forma atingir-se uma densidade entre 550 a 750 kg/m3, o tractor compactador deverá ter 40% do peso da forragem transportada por hora, a espessura das camadas adicionadas deve ser entre 30 cm com uma inclinação de 30º e o tempo de compactação deve ser de 1 a 5 minutos por tonelada, partindo do principio que se realiza descargas na ordem das 30 toneladas por hora.

Após as operações de enchimento e compactação, o lavrador deverá fechar o silo com plástico impermeável e colocar peso sobre o plástico, com o objectivo de evitar que haja movimento do plástico e a entrada de ar e água no interior do silo.

Após o silo ter sido mantido 21 dias fechado, o lavrador poderá abrir o silo caso necessite. Com a abertura do silo, deverá ser gasto diariamente uma camada de 15 a 20 cm e fechado o silo após a retirada da silagem para minimizar as perdas de utilização e a eficiência alimentar do gado leiteiro. Também, recomenda-se que após abertura do silo seja realizado uma análise ao milho ensilado para que com os resultados da  análise e com os dados que o lavrador possua dos restantes alimentos existentes na exploração, os especialistas em nutrição possam calcular a melhor dieta para o gado leiteiro, maximizando a produção de leite.

 

Eng. Nuno Dias

Técnico responsável da CUA na área

de nutrição vegetal e fitofármacos