Jorge Rita presente na feira Agroglobal | Agricultor 2000


O Presidente da Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita, voltou a fazer um ataque cerrado à indústria de lacticínios dos Açores na feira Agroglobal no Cartaxo, afirmando que os agricultores açorianos "não querem" que os produtos lácteos dos Açores sejam vendidos no mercado "em gamas baixas ou como marcas brancas. É inconcebível que um produto 'Made in Açores' seja vendido assim.

Tem de ser precisamente o contrário", sublinhou falando no colóquio 'Conversas Soltas Santander Advance Empresas', Jorge Rita referiu que todo o trabalho na exportação "tem de ser feito no sentido de alavancar os nossos produtos lácteos em mercados que o valorizem"

 

O Presidente da Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita teve oportunidade de se encontrar na feira com o Primeiro-ministro, António Costa e com o Ministro da Agricultura, Capoulas Santos.

"Portugal é um país de produtos agrícolas extraordinários e a agricultura só terá futuro no país e na Região com mais inovação, alocando mais valor acrescentado a estes produtos e fazer com que haja mais internacionalização dos nossos produtos para mercados que os valorizem", explicou o Presidente da Associação Agrícola.

"A aposta nos Açores nunca pode ser pela quantidade. Isto é um erro. Terá de ser sempre pela diferenciação e pela qualidade e pelo nosso modo de produção. Aí é que fazemos a diferença e é nesta base que podemos ganhar novos mercados que valorizem cada vez mais os nossos produtos e esta é que tem de ser a estratégia da Região", afirmou.

A questão do jornalista António Perez Metelo foi instigadora: "Sigo, durante vários anos, as várias realidades da nossa economia e houve uma época muito difícil para os produtores de leite. Deixei de ouvir isso e suponho que isto estará bastante esbatido.

Os Açores já se especializaram naquilo que podiam e sabem fazer melhor e estão a ser bem remunerados por aquilo que fazem? Ou será que terá de haver alguma reconversão em algum aspecto que no continente não se conhece?"

Jorge Rita começou por afirmar que a produção de leite nos Açores "é sempre diferente da produção no resto do país. Estamos assentes num modo de produção em que a pastagem é a imagem de marca. É na pastagem que os animais passam mais tempo possibilitanto o seu bem estar. E esta vantagem comparativa, no nosso ponto de vista, não está a ser valorizada no produto final. Precisamos de valorizar mais os nossos produtos. O produto dos Açores, em matéria de leite e lacticínios, devia ajudar a alavancar os preços dos produtos lácteos no continente. E nunca puxar preços para baixo".

Na opinião do Presidente da Associação Agrícola, um produto Marca Açores no continente ou em qualquer outro mercado, "tem de ser vendido como 'top' (como são os produtos da Suíça) e o que beneficiava os produtores do continente e toda a economia agrícola nacional. E isso não se tem conseguido", disse.

 

“O salto que falta

dar nos Açores”

Realçou, a propósito, que "o salto que falta dar nos Açores é alocar inovação aos nossos produtos, provar cientificamente o bem que os nossos produtos lácteos fazem à saúde. O leite é um bem essencial para a alimentação humana. Enquanto que algumas pessoas dizem que o leite é um produto prejudicial à saúde, o que sucede é precisamente o contrário. E temos de ter capacidade para desmitificar isso. Devemos fazer valer a importância que o leite tem para o consumo humano".

Reforçou que o leite dos Açores tem componentes que "são essenciais para a nossa saúde. Temos associado ao nosso leite características com iodo porque estamos no meio do mar e outras componentes como o omega 3 e CLAAS".

Os Açores, continuou, "têm um trabalho excelente ao nível da produção. A produção tem crescido de forma sustentável e tem muitos ganhos de eficiência, pelo aconselhamento e pela formação ao longo dos anos. Quem ainda não deu o salto que nós todos gostávamos é a indústria. Não podemos estar a pensar só num mercado. É preciso internacionalizar os nossos produtos, fazendo-os chegar ao

Canadá, China, e aos Estados Unidos.

Este é o trabalho que tem de ser feito para a valorização do nosso produto", concluiu.

 

Associação quer escola

profissional de Agricultura

O Presidente da Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita, anunciou no mesmo debate o objectivo de criar uma escola profissional nas instalações de Santana "com raízes e temáticas próprias" sobre a agricultura, que abranja disciplinas sobre a horticultura, produções de leite e carne nos Açores.

Jorge Rita reforçou, por outro lado, a intenção da Associação Agrícola em criar um Centro Interpretativo da Agricultura com um roteiro "em que todos os que nos visitem percebam como evolui o sector, desde, a plantação à recolha, a ordenha das vacas à produção de queijo".

A pergunta de António Perez Metelo foi: "o que falta Jorge Rita fazer pelo sector agrícola na Região e o Presidente da Associação Agrícola respondeu: "O que gostaria de fazer nos próximos anos é colocar a agricultura no patamar que merece.

Normalmente, as pessoas esquecem-se que aquilo que vai todos os dias para a nossa mesa é produzido por alguém que teve um trabalho totalmente desconhecido (o do agricultor) que nunca é devidamente valorizado".

"Nós somos um país fantástico, nós temos uma agricultura fantástica. Esperámos é que ela seja valorizada e deixe de ser o parente pobre de toda a economia dos Açores e do país. Enquanto houver população no mundo para alimentar nós temos um trabalho indispensável".

Em sequência, olhando para as várias dezenas de stands das empresas presentes na Agroglobal que vendem aos agricultores desde sementes e fertilizantes, passando por máquinas de apoio ao sector até drones que fazem trabalhos agrícolas, exclamou:

"Olho esta feira e concluo que, afinal, a agricultura tem um peso muito importante na economia do país. E os agricultores é que proporcionam isto.

Fica evidente que à volta dos agricultores gravita toda uma economia…"

Outra questão suscitada foi se há um futuro atraente para os jovens açorianos em termos de qualificações, em termos de especializações, em termos de interesse pela ilha, pelo potencial agrícola e turístico.

E veio a pergunta: "São capazes de fixar jovens para o futuro?"

Jorge Rita respondeu pela afirmativa: "Sim, nós temos conseguido fixar os jovens. Nos últimos Quadros Comunitários de Apoio, o número de jovens agricultores a entrar para o sector nos Açores é, em termos proporcionais, o maior de Portugal.

Isto é sinal do trabalho que se faz na formação de base", disse.

O Director Coordenador de Negócio Santander, Carlos Santos Lima, concordou com o Presidente da Associação Agrícola: "nós temos uma grande aproximação aos jovens agricultores de São Miguel e da Terceira e sentimos que foram estudar para ganhar especializações e voltaram para aplicá-las na agricultura nos Açores. Eles não perderam as raízes. O que tenho assistido nos Açores é que os jovens não perdem as raízes. Vão ganhar competências no exterior mas para, depois, aplicá-las na sua terra", completou.

 

Os Açores “devem ter

turismo quanto baste…”

No entender de Jorge Rita, o que falta nos Açores "é fazer o culto à vaca. Quase toda a economia tem por base a economia do leite. A agricultura representa 50% da nossa economia e, nestes 50%, o leite representa 73%. E as outras produções regionais são também de grande importância. Temos o ananás, o chá, um grande número de produtos com denominações de origem que são muito importantes para a Região".

"E há um outro sector crescente", prosseguiu, que é potenciado pelo sector agrícola, que é o turismo.

"Não queremos um turismo massificado. Precisamos de turistas, mas sem estragar…", sublinhou.

Perez Metelo pôs a farpa: "até porque os Açores são justamente diferenciados pelo seu equilíbrio ecológico..."

E Jorge Rita prosseguiu: "…E os agricultores é que são os jardineiros daquela magnífica paisagem que nós temos. As pessoas visitam os Açores pela exuberância dos nossos verdes, pelas vacas felizes nas nossas pastagens. Há uma imagem extraordinária das vacas associadas à pastagem tendo como fundo o mar. Devemos associar esta beleza magnífica…"

" Mas como estava a dizer, turismo quanto baste. Nós precisámos é de melhorar o nosso turismo. Temos de ponderar, começar a analisar e fazer estudos credíveis para saber que tipo de turismo queremos e se precisamos de mais turismo. Ao estragar também podemos estar a matar a galinha dos ovos de ouro …"

“A paixão pela agricultura”

Os Açores produzem 30% do leite a nível nacional e têm 2.5% da superfície agrícola do território nacional. "Temos um potencial de excelência dos nossos solos para a produção da agro-pecuária. A agricultura representa 50% da nossa economia.

Onze por cento da população activa trabalha directamente mas quase 50% da população está, de forma indirecta, ligada à agricultura", explicou Jorge Rita.

"Porque estamos a falar da interioridade, no interior do mar os Açores conseguem ter estas performances de produção. Existe uma grande paixão pela agricultura nos Açores apesar das dificuldades que ela transmite ao longo dos anos. Somos um povo habituado às adversidades. Mas temos uma resistência enorme aos problemas que têm acontecido no sector agrícola, não por opções nossas mas por decisões erradas, nomeadamente, da União Europeia com a abolição das quotas leiteiras e o impacto que teve no sector agrícola a nível nacional. Mas somos muito resistentes, muito resilientes. Acreditamos naquilo que fazemos. Gostamos de produzir e quem gosta de produzir nunca desiste.

E quem produz leite, quem produz hortícolas, quem produz carne, obviamente não vai deixar de produzir. Há uma aptidão natural dos açorianos para este sector".

"Como costumo dizer, não há casamento mais perfeito na Região Autónoma dos Açores como o da agricultura com turismo. É a simbiose para o sucesso do desenvolvimento sustentável da economia dos Açores".

António Perez Metelo quis saber o que pensava Jorge Rita do processo negocial das Lajes com os norte-americanos; das riquezas dos mares açorianos; e da estação espacial que se pretende instalar na Região.

Jorge Rita foi muito sintético e duro. "Todas as negociações com os norte-americanos falharam redondamente. Há uma mentira generalizada em relação a todas estas negociações", disse.

"E quando politicamente algo não resulta há primeira, como é o caso da Base das Lajes (…) surgem os disfarces. Quando na Região se fala num mundo novo por desbravar, vem logo o mar. Temos uma vasta área de mar, mas temos cada vez menos peixe. Isto está provado cientificamente. E muito do peixe não foi capturado por pescadores dos Açores. Foram os nossos vizinhos que tiveram a habilidade de o fazer durante muitos anos.

E sobre as potenciais riquezas em minérios dos fundos marinhos açorianos responde que "não está provado que esta riqueza exista. E não se sabe se os custos para a obtenção destes minérios dos fundos marinhos (se eles existirem em quantidades suficientes) serão compatíveis com as receitas que se vão alcançar…"

Outra questão colocada a Jorge Rita" A sua associação é caso sério porque é nem mais nem menos do que a maior associação de agricultores do pais, o que quer dizer que os agricultores de São Miguel, fizeram uma obra muito séria e muito importante para o desenvolvimento de toda a ilha"?

"É um facto. Temos a maior associação agrícola do país É aquela que tem o maior número de associados."

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